2010...tempo de lançar as redes da esperança
Por Patrícia Monteiro
Falésias, enseadas naturais, mar calmo. O cenário, no litoral cearense, é um convite ao descanso. Ali encontrei uma paisagem exuberante, um povo corajoso e um exemplo que alimentou minha alma. No lugar do repouso, a mente se pôs a navegar, embalada pelas sossegadas águas daquele imenso mar de esperança.
A praia de Redonda está localizada no município de Icapuí, distante
A comunidade sobrevive da pesca da lagosta, atividade herdada de geração a geração. ?Aqui a pesca é a vida da gente?, afirma Geisivan Santos, de 14 anos, ?fisgado? pelas redes do amor à pesca aos nove anos de idade. O sossego da pequena vila de pescadores é abalado apenas pela ameaça da pesca predatória.
Abraço simbólico
A luta pela pesca sustentável motivou os pescadores a se organizarem em associação e combater a atividade ilegal. ?Em vez de esperar só pela fiscalização do Ibama, a comunidade se uniu, juntou dinheiro e comprou dois barcos que fazem o controle da pesca, evitando que as lagostas sejam capturadas pelos predadores no período da reprodução?, explica o pescador Jorge dos Santos.
?Estes barcos são o nosso xodó, porque com eles a gente pode garantir a pesca da lagosta e a sobrevivência do nosso povo?, conta Geisivan.
Para comemorar as duas décadas de combate à pesca predatória, pescadores, marisqueiras e seus pequenos filhos caminharam, de mãos unidas, da sede da Associação de Pescadores até a beira mar. Naquele domingo de festa, dia 20 de dezembro de 2009, homens, mulheres e crianças deram um abraço simbólico nas duas embarcações de pesca artesanal.
Todos queriam participar da homenagem. Crianças ajudaram um obstinado pescador a chegar mais perto dos barcos, a bordo de sua cadeira de rodas...Gente que não se deixa vencer pelas limitações, gente que sabe lidar com as diferenças.
Unidos/as por uma causa
Geisivan e Jorge são evangélicos. Segundo eles, a maioria da comunidade é católica. ?Mas aqui a gente não sofre preconceito não. Os crentes são muito respeitados?, comenta, satisfeito, o irmão Jorge, que havia acabado de voltar da escola dominical.
Para Jorge, o 20 de dezembro não foi apenas de encontro com os irmãos na fé. Com a bíblia debaixo do braço, vestindo camiseta e calça comprida, o irmão pescador colocou os pés na areia, ergueu a bandeira da cidadania e se identificou com a causa de sua comunidade.
Avançar sobre as águas
O exemplo do povo obstinado, unido e solidário da praia de Redonda me fez refletir sobre a caminhada cristã. Como pescadores de almas, precisamos avançar sobre as águas (às vezes turbulentas) do desânimo, das intolerâncias, das divergências e alcançar as profundezas da fé.
Não basta listar os sonhos e a esperança que renascem junto com as promessas do novo ano. É preciso transformar os sentimentos em redes de relacionamentos, em gestos de solidariedade, em abraços de unidade e partilha.
À semelhança da comunidade de Redonda, que protege com ousadia sua fonte de subsistência, seja a defesa de Cristo, da vida humana e da fé a nossa tarefa prioritária, a fim de alcançarmos a alegria da multiplicação dos peixes. Para cada pessoa que você encontrar pelos caminhos do novo ano, lance a rede da esperança, pois, como diz a música, ?se a vida é naufrágio, todo esforço é fracasso, Só Deus tem solução?.
Aquele que oferece por sacrifício ações de graças me glorifica; e àquele que bem ordena o seu caminho eu mostrarei a salvação de Deus.
SALMOS 50.23