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Artigo: Por que não uma mulher?






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Estive no culto de abertura da 108ª Assembléia Anual da CBESP, reunida sob o
tema: "Transformados pelo Poder do Reino de Deus", em São Bernardo do Campo, no auditório principal do CENFORPE, à noite em  13 de julho último.
Fui cativado  pelo  tema que aspira pelo novidoso, o renovado e  a metamorfose proposta no Evangelho.  Entretanto,  faço mea culpa, pois o envelhecimento traz consigo uma dose amarga diária de desesperança, que não raro se confirma, pois a experiência de vida nos permite enxergar através do que acontece, dos quadros montados, articulados, e identificar  os ajustes, e os ajeitamentos  denominacionais como de fato eles o  são, asquerosos, revestidos de aparentes transformações.
Dentre algumas observações elencadas e armazenadas na  subjetividade, das quais emergirei algumas, soube na ocasião que o diretor executivo da CBESP, Pastor Valdo Romão, fora substituído por um interino, Pastor  Joelito Santos;  e que já será substituído pelo definitivo, Pastor Adilson Santos. Conheço a todos, e sem emitir qualquer juízo de valor, pois este não é o propósito deste alinhavo, pensei: - Porque não uma mulher neste lugar de diretora executiva? Sim, uma mulher Diretora Executiva da Convenção Batista do Estado de São Paulo. Mas as idéias se chocam, se confundem, brigam entre si, uma vez que a voz da experiência, com sua dose de pessimismo, assume a liderança do debate mental e sintetiza: -  é assim! É perceptível como as forças  políticas e desejos pessoais se articulam e se projetam esfaimados  no ambiente denominacional  de forma absurdamente rápida, e novamente o cenário se compõe com  os mesmos atores, com novos títulos, novo aparelhamento de parceiros  aparentando transformação, mas sem querer abusar do jargão:  - é mais do mesmo!
Entretanto, o tema da “transformação pela presença do Reino” é inebriante, e insiste, visto que as mulheres foram dignificadas e resinificadas na perspectiva novidosa e transformadora da mensagem do Evangelho do Jesus  de Nazaré. Absurdo de minha mente cogitar uma transformação que trouxesse à liderança da CBESP uma mulher na condição de diretora executiva? Provavelmente não, pois o cenário mundial contemporâneo coloca em destaque na Alemanha Angela Merkel, na Inglaterra ascende
​ ​
à liderança do Reino Unido Theresa May, e nos EUA Hillary Clinton tem reunido intenções de votos  para em outubro próximo sagrar-se presidente do país. No Brasil temos a presidente afastada Dilma Rousseff, ainda  que  pesem opiniões favoráveis e
​desfavoráveis​
à gestão dela, é mulher  eleita pelo povo. Mesmo  que estes exemplos  não  bastem como suporte argumentativo para  justificar a presença de uma mulher  na direção da convenção, reporto-me à Igreja Metodista que no seu 20º Concílio Geral realizado  em Teresópolis  neste mês, não somente reconduziu ao episcopado da igreja a Bispa Marisa de Freitas, bem como, elegeu nova Bispa,  a Pastora Hideide Brito.
Mesmo que tais informações  não constranjam minha mente batista, fundamentalista, que considera a Bíblia como única regra de fé e prática, evoco a ressurreição do Cristo, no momento inaudito, ímpar,  restaurador e transformador em que as cadeias de morte são desafiadas pelas correntezas da vida e da esperança, e  lá estavam as mulheres, primeiríssimas testemunhas  do novo  tempo do Reino de Deus (Mateus 28.8-10). Ora,  se Jesus confiou às mulheres o privilégio do anúncio primeiro das Boas Novas do Reino, não  será que  temos dentre as preciosas irmãs batistas uma que seja suficientemente capaz de assumir a função de diretora geral de nossa  convenção estadual? Mulheres não cabem no ministério pastoral? Não é bíblico? Afinal, o  que é bíblico?
É sabido por nós, os batistas,  o quanto se tem agregado à gloriosa   história   batista  a atuação preciosa, prestimosa e relevante de inúmeras  mulheres, e correndo o risco de cometer injustiças na omissão de muitos nomes, sugiro alguns  da vida denominacional,   tais como: Anna Bagby, Tabita Krause de Miranda Pinto,  Olinda Lopes,  Cenyra Pinel Bernardo, Acidália Tymchak, Nanci Dusilek,  Márcia Venturini  de Souza,  e milhares de milhares!
O  Art. 64  do Regimento Interno da Convenção preceitua:  “A CONVENÇÃO terá um sistema adequado para avaliação periódica do desempenho dos seus executivos e funcionários de todos os níveis, que será regulamentado através de um manual de avaliação de desempenho aprovado pelo Conselho Geral”
Confesso minha absoluta ignorância sobre a existência desse sistema da avaliação. Entretanto,  na prática, o que se observa é o que ouvi, aprendi e guardei como uma percepção realista do funcionamento da máquina batista  circunscrito na frase de um  ilustre pastor batista:  “no meio batista, os diretores executivos são fortes... as diretorias convencionais passam, eles ficam... por anos”
Ainda que duríssima tal  visão da realidade, porém  precisa em sua percepção, hoje se reinventa o que já se inventou, e a possibilidade de arriscar uma transformação se esvai na manutenção de  práticas personalistas, e  nos acordos celebrados entre atores que ocupam e mantém seus cargos por anos a fio nos meandros denominacionais.  Ora,  uma certa possibilidade  de ruptura desse círculo vicioso estará  no resgate do sentido da diaconia às igrejas locais  preceituado no  artigo quarto do Estatuto,   intitulado:- das  finalidades, como se lê: Art. 4º - A CONVENÇÃO tem por finalidade: (I)  – servir às igrejas nela arroladas, contribuindo, por todos os meios condizentes com os princípios cristãos, para aperfeiçoar, aprofundar e ampliar a ação das igrejas, visando à edificação dos crentes e expansão do Reino de Deus. Em resumo,  restabelecer urgente a centralidade da Igreja na vida denominacional.
E neste percurso  a desesperança embota  a clareza do raciocínio, pois o que menos se observa, assim como ontem percebi, é a igreja  como agente protagonista na Convenção, e a absurda tentativa da Convenção  de se inserir  cada vez mais na dinâmica da  igreja local, até questionando sua independência, soberania  e autonomia.  Ora, quem dá vida à Convenção na mentalidade batista mais límpida, é  desde sempre a igreja local, não o contrário. Ademais, corrobora com a centralidade da Igreja no pensamento batista, não  somente o documento que temos como Pacto das Igrejas Batistas, bem como,  o próprio estatuto convencional que considera:  Art. 3º - A CONVENÇÃO é constituída pelas igrejas batistas do Estado de São Paulo, nela arroladas, neste estatuto chamadas IGREJAS
Portanto, no momento, encontro uma salvaguarda para minhas elucubrações sobre a possibilidade de uma mulher assumir a função de diretora executiva da CBESP, visto que o espirito democrático, congregacional que rege nosso estilo de vida comunitária, e deveria assim ser no ambiente convencional, pressupõe o risco de submeter ao plenário multiforme, composto por  várias tendencias ideológicas e posturas teológicas diversas, ainda que batistas, conforme nos diz a  Filosofia da CBESP: Os Batistas adotam como forma de governo da igreja o sistema democrático exercido pela congregação local, debaixo da soberania de Jesus Cristo, Cabeça e Senhor da igreja, e da orientação do Espírito Santo.
Então, questiono: - não teria chegado   o tempo do Espírito Santo  em que Deus nos venha colocar como convenção batista sob a liderança de uma mulher? Aliás, já não chegou o tempo novo do Reino, dentro do espectro da transformação  que todos os  diretores, de todas as áreas e organizações, tais como: colégio batista, faculdade batista, diretor executivo  e todos os demais  fossem eleitos por meio do  sufrágio universal direto, com a participação  da membresia das igrejas  num contexto livre e democrático, nas urnas? Não seria o tempo de se repensar  no risco da manutenção de mandatos vitalícios, oligárquicos, na modalidade “enquanto bem servir”(?), substituindo-os  para mandatos  delimitados, quadrienais, renováveis, desde de que consolidados pelo voto  congregacional direto nas assembleias convencionais? Arriscado? – Sim. Especialmente para os que estão encrustados nos organismos denominacionais há anos e dali fazem sua politica de perpetuação nos espaços sob seus domínios.  Impossível? Certamente que não, pois hoje dispomos de  recursos tecnológicos que nos permitem tais vôos mentais, aparentemente insanos, e até reacionários, mas nada mais é  o que já acontece no mundo moderno. Enxugar a máquina, diminuir custos e  adotar posturas e ações de gestão  transparentes são opções aclamadas como sadias no mundo moderno, e que arejam instituições, sejam elas religiosas ou não.
E o povo? A congregação ocupa que espaço  hoje no cenário batista estadual?  Onde estão os leigos e as leigas? Refiro-me àquele  povo que dizima, que evangeliza, que canta, que faz com que  o  templo abra  as portas dominicalmente, que paga os salários dos pastores e ainda tem que  financiar  o plano cooperativo e  bancar  financeiramente missões  locais, estaduais, nacionais e mundiais. A assembleia convencional irá se acomodar com este distanciamento das massas populares, e optará por ser um concílio de clérigos?! Será que estamos prestes a engolir a  Ordem dos Pastores como sendo um organismo conciliar batista, com poder e influência  na vida denominacional  maior que a Assembléia das Igrejas reunidas  num formato de convenção de igrejas estaduais?
Ontem, no culto de abertura dos trabalhos convencionais, a mesa estava  engalanadamente composta, mas o povo no auditório era  raro. Uma discrepância entre a pompa do altar  e o volume numérico do povo no recinto. Observei pouca gente presente num ambiente acinzentado,  tendo um  orador no púlpito, Pastor Eber Silva, mas pouco povo para ouvi-lo, dentre eles, eu. Homiziados na penumbra, acobertados por  dezenas de poltronas vagas ao redor, nada  tendo que refletisse a magnitude do momento de instalação  de uma assembleia anual batista. Quem te viu, e que te vê! Que pena!
Não me considero saudosista,  mas guardo  lembranças na memória. Vivi o ambiente batista sob a batuta de diretores executivos como Salovi Bernardo, Onésimo Nascimento e  José Vieira Rocha.
Recordo de    cenas em  assembleias convencionais nas quais  havia um frenesi do povo. Não adoto a linha de pensamento  que no passado era melhor, ou pior; fato é que estes líderes  conseguiram a façanha de trazer o povo para os encontros denominacionais. Reuniam  gente de todo o lugar,  vindos do grande estado de SP  e as assembleias  convencionais refletiam essa magnitude. Os  debates sobre os temas  no parlamento eram acirrados, mas não havia espanto, pois esta é a “cara do povo batista”, o contraditório, o diálogo, o enfrentamento das idéias; o local do cafezinho era um setor à parte, um bar de amigos,  de conversas, de risos... os sons da existência de  vida.  As assembleias  tinham contornos  de uma grande celebração denominacional com múltiplas  funções, dentre elas,   fomentar a identidade batista, enobrecendo o diálogo, a discussão de doutrinas e  o respeito às ideias diversas.  Um povo diferente, que se igualava exatamente por conta da manutenção da diversidade. Onde   se enquadra a diversidade  hoje?  Paradoxalmente restrita aos iguais, aos amigos de interesses comuns, que da convenção  se utilizam como esteira de pretensões pessoais.
Ontem à noite, no CENFORPE  foi chocante, acachapante  e  desmotivador. Certamente para os líderes que protagonizaram o momento ele fora pleno, mas não tinha o povo. Os corredores entre os estandes estavam silenciosos, corria ali um vento afetado de frio; não tinha viço. Não tinha o barulho da nossa gente feliz.  E sem povo, não se é batista. E o que sobra é mais do mesmo,  e o novidoso do Reino se distancia cada vez mais do jeito batista de ser. E neste contexto, falar em eleição de uma mulher para secretaria  executiva soa como aberração, ou uma crítica pela crítica. E questionar acerca da ausência do povo na  assembleia convencional de uma  denominação  que é por natureza focada na igreja,  e congregacional por excelência, parece despeito e saudosismo.
Tenho medo do odor de  morte  que contamina o espaço em que  deveria se sustentar o viço da  esperança e o vigor  denominacional. A auspiciosa  temática  da possibilidade de  transformação  dá lugar à estagnação, à repetição, à reprodução de um legado que não serve  mais ao bem-estar de todos, da missão, da igreja local,  mas sim favorece  alguns que ali se ajuntam e se protegem; e as mulheres batistas  continuam ativas, operosas, e ai das igrejas locais se não fossem elas;  e lhes é garantido o  direito à voz, mas não  a vez. Adeus  pretendida  possibilidade de transformação!

 

Estive no culto de abertura da 108ª Assembléia Anual da CBESP, reunida sob o tema: "Transformados pelo Poder do Reino de Deus", em São Bernardo do Campo, no auditório principal do CENFORPE, à noite em  13 de julho último.

Fui cativado  pelo  tema que aspira pelo novidoso, o renovado e  a metamorfose proposta no Evangelho.  Entretanto,  faço mea culpa, pois o envelhecimento traz consigo uma dose amarga diária de desesperança, que não raro se confirma, pois a experiência de vida nos permite enxergar através do que acontece, dos quadros montados, articulados, e identificar  os ajustes, e os ajeitamentos  denominacionais como de fato eles o  são, asquerosos, revestidos de aparentes transformações.

Dentre algumas observações elencadas e armazenadas na  subjetividade, das quais emergirei algumas, soube na ocasião que o diretor executivo da CBESP, Pastor Valdo Romão, fora substituído por um interino, Pastor  Joelito Santos;  e que já será substituído pelo definitivo, Pastor Adilson Santos. Conheço a todos, e sem emitir qualquer juízo de valor, pois este não é o propósito deste alinhavo, pensei: - Porque não uma mulher neste lugar de diretora executiva? Sim, uma mulher Diretora Executiva da Convenção Batista do Estado de São Paulo. Mas as idéias se chocam, se confundem, brigam entre si, uma vez que a voz da experiência, com sua dose de pessimismo, assume a liderança do debate mental e sintetiza: -  é assim! É perceptível como as forças  políticas e desejos pessoais se articulam e se projetam esfaimados  no ambiente denominacional  de forma absurdamente rápida, e novamente o cenário se compõe com  os mesmos atores, com novos títulos, novo aparelhamento de parceiros  aparentando transformação, mas sem querer abusar do jargão:  - é mais do mesmo!

Entretanto, o tema da “transformação pela presença do Reino” é inebriante, e insiste, visto que as mulheres foram dignificadas e resinificadas na perspectiva novidosa e transformadora da mensagem do Evangelho do Jesus  de Nazaré. Absurdo de minha mente cogitar uma transformação que trouxesse à liderança da CBESP uma mulher na condição de diretora executiva? Provavelmente não, pois o cenário mundial contemporâneo coloca em destaque na Alemanha Angela Merkel, na Inglaterra ascende à liderança do Reino Unido Theresa May, e nos EUA Hillary Clinton tem reunido intenções de votos  para em outubro próximo sagrar-se presidente do país. No Brasil temos a presidente afastada Dilma Rousseff, ainda  que  pesem opiniões favoráveis e desfavoráveis​ à gestão dela, é mulher  eleita pelo povo. Mesmo  que estes exemplos  não  bastem como suporte argumentativo para  justificar a presença de uma mulher  na direção da convenção, reporto-me à Igreja Metodista que no seu 20º Concílio Geral realizado em Teresópolis  neste mês, não somente reconduziu ao episcopado da igreja a Bispa Marisa de Freitas, bem como, elegeu nova Bispa,  a Pastora Hideide Brito.

Mesmo que tais informações  não constranjam minha mente batista, fundamentalista, que considera a Bíblia como única regra de fé e prática, evoco a ressurreição do Cristo, no momento inaudito, ímpar,  restaurador e transformador em que as cadeias de morte são desafiadas pelas correntezas da vida e da esperança, e  lá estavam as mulheres, primeiríssimas testemunhas  do novo  tempo do Reino de Deus (Mateus 28.8-10). Ora,  se Jesus confiou às mulheres o privilégio do anúncio primeiro das Boas Novas do Reino, não  será que  temos dentre as preciosas irmãs batistas uma que seja suficientemente capaz de assumir a função de diretora geral de nossa  convenção estadual? Mulheres não cabem no ministério pastoral? Não é bíblico? Afinal, o  que é bíblico?

É sabido por nós, os batistas,  o quanto se tem agregado à gloriosa   história   batista  a atuação preciosa, prestimosa e relevante de inúmeras  mulheres, e correndo o risco de cometer injustiças na omissão de muitos nomes, sugiro alguns  da vida denominacional,   tais como: Anna Bagby, Tabita Krause de Miranda Pinto,  Olinda Lopes,  Cenyra Pinel Bernardo, Acidália Tymchak, Nanci Dusilek,  Márcia Venturini  de Souza,  e milhares de milhares!

O  Art. 64  do Regimento Interno da Convenção preceitua:  “A CONVENÇÃO terá um sistema adequado para avaliação periódica do desempenho dos seus executivos e funcionários de todos os níveis, que será regulamentado através de um manual de avaliação de desempenho aprovado pelo Conselho Geral”

Confesso minha absoluta ignorância sobre a existência desse sistema da avaliação. Entretanto, na prática, o que se observa é o que ouvi, aprendi e guardei como uma percepção realista do funcionamento da máquina batista  circunscrito na frase de um  ilustre pastor batista:  “no meio batista, os diretores executivos são fortes... as diretorias convencionais passam, eles ficam... por anos”

Ainda que duríssima tal  visão da realidade, porém  precisa em sua percepção, hoje se reinventa o que já se inventou, e a possibilidade de arriscar uma transformação se esvai na manutenção de práticas personalistas, e  nos acordos celebrados entre atores que ocupam e mantém seus cargos por anos a fio nos meandros denominacionais.  Ora,  uma certa possibilidade  de ruptura desse círculo vicioso estará  no resgate do sentido da diaconia às igrejas locais  preceituado no  artigo quarto do Estatuto,   intitulado:- das  finalidades, como se lê: Art. 4º - A CONVENÇÃO tem por finalidade: (I)  – servir às igrejas nela arroladas, contribuindo, por todos os meios condizentes com os princípios cristãos, para aperfeiçoar, aprofundar e ampliar a ação das igrejas, visando à edificação dos crentes e expansão do Reino de Deus. Em resumo,  restabelecer urgente a centralidade da Igreja na vida denominacional.

E neste percurso  a desesperança embota  a clareza do raciocínio, pois o que menos se observa, assim como ontem percebi, é a igreja  como agente protagonista na Convenção, e a absurda tentativa da Convenção  de se inserir  cada vez mais na dinâmica da  igreja local, até questionando sua independência, soberania  e autonomia.  Ora, quem dá vida à Convenção na mentalidade batista mais límpida, é  desde sempre a igreja local, não o contrário. Ademais, corrobora com a centralidade da Igreja no pensamento batista, não  somente o documento que temos como Pacto das Igrejas Batistas, bem como,  o próprio estatuto convencional que considera:  Art. 3º - A CONVENÇÃO é constituída pelas igrejas batistas do Estado de São Paulo, nela arroladas, neste estatuto chamadas IGREJAS

Portanto, no momento, encontro uma salvaguarda para minhas elucubrações sobre a possibilidade de uma mulher assumir a função de diretora executiva da CBESP, visto que o espirito democrático, congregacional que rege nosso estilo de vida comunitária, e deveria assim ser no ambiente convencional, pressupõe o risco de submeter ao plenário multiforme, composto por  várias tendencias ideológicas e posturas teológicas diversas, ainda que batistas, conforme nos diz a  Filosofia da CBESP: Os Batistas adotam como forma de governo da igreja o sistema democrático exercido pela congregação local, debaixo da soberania de Jesus Cristo, Cabeça e Senhor da igreja, e da orientação do Espírito Santo.

Então, questiono: - não teria chegado   o tempo do Espírito Santo  em que Deus nos venha colocar como convenção batista sob a liderança de uma mulher? Aliás, já não chegou o tempo novo do Reino, dentro do espectro da transformação  que todos os  diretores, de todas as áreas e organizações, tais como: colégio batista, faculdade batista, diretor executivo  e todos os demais  fossem eleitos por meio do  sufrágio universal direto, com a participação  da membresia das igrejas  num contexto livre e democrático, nas urnas? Não seria o tempo de se repensar  no risco da manutenção de mandatos vitalícios, oligárquicos, na modalidade “enquanto bem servir”(?), substituindo-os  para mandatos  delimitados, quadrienais, renováveis, desde de que consolidados pelo voto  congregacional direto nas assembleias convencionais? Arriscado? – Sim. Especialmente para os que estão encrustados nos organismos denominacionais há anos e dali fazem sua politica de perpetuação nos espaços sob seus domínios.  Impossível? Certamente que não, pois hoje dispomos de  recursos tecnológicos que nos permitem tais vôos mentais, aparentemente insanos, e até reacionários, mas nada mais é  o que já acontece no mundo moderno. Enxugar a máquina, diminuir custos e  adotar posturas e ações de gestão  transparentes são opções aclamadas como sadias no mundo moderno, e que arejam instituições, sejam elas religiosas ou não.

E o povo? A congregação ocupa que espaço  hoje no cenário batista estadual?  Onde estão os leigos e as leigas? Refiro-me àquele  povo que dizima, que evangeliza, que canta, que faz com que  o  templo abra  as portas dominicalmente, que paga os salários dos pastores e ainda tem que  financiar  o plano cooperativo e  bancar  financeiramente missões  locais, estaduais, nacionais e mundiais. A assembleia convencional irá se acomodar com este distanciamento das massas populares, e optará por ser um concílio de clérigos?! Será que estamos prestes a engolir a  Ordem dos Pastores como sendo um organismo conciliar batista, com poder e influência  na vida denominacional  maior que a Assembléia das Igrejas reunidas  num formato de convenção de igrejas estaduais?

Ontem, no culto de abertura dos trabalhos convencionais, a mesa estava  engalanadamente composta, mas o povo no auditório era  raro. Uma discrepância entre a pompa do altar  e o volume numérico do povo no recinto. Observei pouca gente presente num ambiente acinzentado,  tendo um  orador no púlpito, Pastor Eber Silva, mas pouco povo para ouvi-lo, dentre eles, eu. Homiziados na penumbra, acobertados por  dezenas de poltronas vagas ao redor, nada  tendo que refletisse a magnitude do momento de instalação  de uma assembleia anual batista. Quem te viu, e que te vê! Que pena!

Não me considero saudosista,  mas guardo  lembranças na memória. Vivi o ambiente batista sob a batuta de diretores executivos como Salovi Bernardo, Onésimo Nascimento e  José Vieira Rocha.

Recordo de    cenas em  assembleias convencionais nas quais  havia um frenesi do povo. Não adoto a linha de pensamento  que no passado era melhor, ou pior; fato é que estes líderes  conseguiram a façanha de trazer o povo para os encontros denominacionais. Reuniam  gente de todo o lugar,  vindos do grande estado de SP  e as assembleias  convencionais refletiam essa magnitude. Os  debates sobre os temas  no parlamento eram acirrados, mas não havia espanto, pois esta é a “cara do povo batista”, o contraditório, o diálogo, o enfrentamento das idéias; o local do cafezinho era um setor à parte, um bar de amigos,  de conversas, de risos... os sons da existência de  vida.  As assembleias  tinham contornos  de uma grande celebração denominacional com múltiplas  funções, dentre elas,   fomentar a identidade batista, enobrecendo o diálogo, a discussão de doutrinas e  o respeito às ideias diversas.  Um povo diferente, que se igualava exatamente por conta da manutenção da diversidade. Onde   se enquadra a diversidade  hoje?  Paradoxalmente restrita aos iguais, aos amigos de interesses comuns, que da convenção  se utilizam como esteira de pretensões pessoais.

Ontem à noite, no CENFORPE  foi chocante, acachapante  e  desmotivador. Certamente para os líderes que protagonizaram o momento ele fora pleno, mas não tinha o povo. Os corredores entre os estandes estavam silenciosos, corria ali um vento afetado de frio; não tinha viço. Não tinha o barulho da nossa gente feliz.  E sem povo, não se é batista. E o que sobra é mais do mesmo,  e o novidoso do Reino se distancia cada vez mais do jeito batista de ser. E neste contexto, falar em eleição de uma mulher para secretaria  executiva soa como aberração, ou uma crítica pela crítica. E questionar acerca da ausência do povo na  assembleia convencional de uma  denominação  que é por natureza focada na igreja,  e congregacional por excelência, parece despeito e saudosismo.

Tenho medo do odor de  morte  que contamina o espaço em que  deveria se sustentar o viço da  esperança e o vigor  denominacional. A auspiciosa  temática  da possibilidade de  transformação  dá lugar à estagnação, à repetição, à reprodução de um legado que não serve  mais ao bem-estar de todos, da missão, da igreja local,  mas sim favorece  alguns que ali se ajuntam e se protegem; e as mulheres batistas  continuam ativas, operosas, e ai das igrejas locais se não fossem elas;  e lhes é garantido o  direito à voz, mas não  a vez. Adeus  pretendida  possibilidade de transformação!

 

Prof. Dr. Jorge Schütz Dias
Faculdade de Teologia -EAD





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