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O site Mulheres 50 mais vem publicando uma série de reportagens com a trajetória de mulheres com mais de cinquenta anos que ocupam posições de liderença em contextos religiosos.
Na matéria que fala sobre as evangélicas, a bispa Marisa de Freiras foi uma das entrevistadas. Entre outros temas, a presidente da Igreja Metodista no Nordeste falou sobre as dificuldades da liderança feminina, as lutas que enfrentou nos últimos anos, problemas de saúde e muito mais.
Confira o trecho da reportagem da jornalista Elvira Lobato:
A bispa Marisa coordena 79 templos metodistas no Nordeste. Nascida em Teófilo Otoni, em Minas Gerais, ela tem 55 anos e, além de graduada em teologia, formou-se em medicina pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, de Salvador, e estudou três anos e meio de psicanálise. Um de seus projetos é ser psicanalista.
Entrevistei a bispa durante uma viagem que ela fez ao Rio de Janeiro para um evento regional de mulheres evangélicas. Como não havia espaço em sua agenda, fui encontrá-la em um restaurante em Santa Cruz da Serra, bairro do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde almoçava em companhia de pastores que atuam na periferia.
Na Igreja Metodista, os bispos não são vitalícios, como na religião católica. Eles são eleitos em um conclave nacional, por cinco anos. No fim do mandato, caso não sejam reeleitos, retornam à função de pastor.
Marisa foi a primeira bispa eleita da Igreja Metodista no Brasil e acaba de ser reconduzida para seu quarto mandato. O concílio que a reelegeu foi realizado no início de julho e escolheu mais uma mulher para o colegiado de bispos.
A Igreja Metodista é dirigida por um colegiado de dez bispos. Portanto, com a eleição da segunda bispa, as mulheres passaram a representar 20% do colegiado. Mas, engana-se quem pensa que elas tiveram uma ascensão tranquila.
Acostumada à formalidade e pompa dos bispos católicos, me surpreendi com a franqueza com que ela fala sobre seus sofrimentos e seu aprendizado de vida, que coincidiram com a virada dos 50 anos de idade.
Marisa não aparenta a idade que tem. Pequena e delgada, ainda usa aparelho corretivo nos dentes, o que acentua o aspecto jovial. Na medida em que conta sua história, porém, vê-se que a fragilidade é apenas aparente.
Divórcio e depressão
Ela diz que a passagem pelos 50 anos foi marcada por grandes mudanças e aprendizados. Aos 47 anos, decidiu encarar a derrocada de seu casamento e pediu divórcio. Sua decisão foi um choque para a igreja, porque o divórcio ainda é um estigma no meio evangélico.
“O divórcio, para mim, significava uma frustração, um projeto que deu errado. Além do preconceito social, tinha o meu próprio preconceito. Eu não tinha me casado pensando que pudesse me divorciar. E, por ser uma bispa, o fim do casamento era ainda mais incompreensível, mas concluí que mesmo não sendo alvo, o divórcio por vezes é necessário e, em situações específicas, é um caminho de favorecimento à vida”. Paralelamente, havia um outro problema pessoal e familiar: a depressão, dela e da filha.
No auge da dor do divórcio, ela diz que encontrou forças no Evangelho. “Um dia, orando, eu abri a Bíblia aleatoriamente e me deparei com a seguinte frase do profeta Oséias : nunca mais você será chamada desamparada nem humilhada. A partir daquele momento, me aceitei divorciada.”
O fato de ser médica ajudou-a entender a depressão como uma doença e a buscar tratamento na psicanálise, superando o sentimento de culpa pela depressão da filha que, no vigor da juventude, e apesar de todos os cuidados com que era cercada, deu cabo à vida, no ano passado. Marisa conta que sua convicção religiosa foi fundamental para superar a dor, e seguir em frente.
Ela diz que a virada dos 50 anos lhe trouxe maturidade, leveza, abertura para fazer amigos e lhe ensinou a pedir a ajuda aos outros e a relativizar os problemas. “Digo que ganhei dois amigos: “tonem” e “quico”. “Tonem” aí e “quico” eu tenho a ver com isso? Pode parecer banal, mas é uma forma de mostrar, brincando, que já não ajo pelas pressões externas, mas a partir do que sei, diante de Deus, que deve ser feito. Foi também a partir desta convicção, aprendi a lidar e a assumir a doença depressão.”
“As dificuldades por que passei foram uma maneira de Deus me dizer que ama as pessoas em qualquer situação. Ele não exige perfeição. Meu papel é anunciá-Lo para as pessoas que estão escondidas pelos cantos, carregando um peso de vergonha pela depressão ou por estarem divorciadas. Falo publicamente que faço terapia e não escondo de ninguém que minha filha se matou, vítima da depressão. Posso não ser padrão para boa parte da sociedade evangélica, mas o sou para as exigências da Graça de Deus. Ele me honra e me acata, mesmo não sendo uma pessoa padrão”, diz ela.
A reportagem na íntegra pode ser lida diretamente no site Mulheres 50 mais
Um deles, vendo que fora curado, voltou glorificando a Deus em alta voz;
LUCAS 17.15