fonte: Rev. Ricardo Pereira - Diretor do Cemene
A incapacidade de ler a realidade da cidade e contribuir para amenizar as suas mazelas, passa por problemas e conceitos crônicos no âmbito das igrejas protestantes históricas, a começar pelo entendimento transferido no decorrer da história sobre o papel do cuidado no ambiente urbano. No caso do protestantismo de missão, o ideal de cuidado através do pastoreio é entendido a partir do evangelismo conversionista, que apela muito mais para a conversão individual ao invés da transformação social.
Faz necessário a ampliação da concepção de mudança integral do evangelho. Ele não muda somente o indivíduo, mas também o ambiente em que este indivíduo está inserido. Não nos esqueçamos que para nós metodistas a salvação também tem um caráter social. Wesley disse: não existe religião genuína sem uma dimensão social, ou seja, comunitária. Neste sentido, a missão para nós metodistas tem uma dimensão social. Deus ama toda a humana (graça previniente) e tem interesse absoluto em salva-la.
O sentido social da missão, ou seja, seu caráter de mudança integral nos remete ao desafio da evangelização dos grandes conglomerados sociais, isto é, o desafio do caráter urbano da missão. Mas o que é a missão urbana? É a forma de apresentar, fundamentar e sustentar teologicamente a Missão de Deus confiada à Igreja, que consiste em anunciar o amor de Deus revelado em Jesus Cristo que abrange a salvação das pessoas, e a transformação da sociedade vivenciando o caráter integral da missão no mundo.
O mundo aqui apresentado tem uma característica especifica: a urbanização! O que a conceitua e quais são seus desafios a missão da igreja? A urbanização é o processo de afastamento das características rurais de um lugar ou região visando dotar uma área de infraestrutura, como água, esgoto, gás, eletricidade e/ou serviços urbanos como transporte, educação, saúde e etc. Demograficamente, o termo significa a redistribuição das populações das zonas rurais para assentamentos urbanos.
Porém, “nem tudo que reluz é ouro”. As aparentes mudanças positivas escondem mazelas profundas advindas da mudança radical do urbano. No Brasil, a urbanização ocorreu de uma forma rápida e desorganizada. As cidades adquiriram uma dinâmica própria: seu processo contínuo de produção favoreceu condições para a desintegração do ser humano em seus aspectos vitais- a relação com a natureza, com o próximo, com a perspectiva de vida gerando uma série de doenças e psicoses por conta da atividade frenética estabelecida pela cultura urbana de obter-ganhar-consumir-ostentar.
Para implantar um modelo de missão que compreenda as características peculiares do cotidiano urbano é preciso levar a sério o estudo da cultura. Não há como contextualizar a mensagem integral do evangelho sem conhecer os aspectos que conferem sentido à vida no contexto urbano. Neste sentido, o papel da educação é fundamental, sobretudo seu aspecto teológico, pois como em cada contexto cultural, é possível se falar em uma espiritualidade própria do mundo urbanizado: uma espiritualidade superficial, sincrética, mecanicista, ditatorial, anti bíblica e contraria a mensagem integral do Reino.
Entretanto, as mazelas trazidas pela cultura urbana para o cotidiano das pessoas pode tornar-se uma oportunidade ímpar para a pregação do evangelho. O maior desafio no processo é a contextualização, a comunicação da salvação, a linguagem especifica do fenômeno urbano. Um começo de caminho seria a Igreja tornar-se um espaço que chamo de elo da vida: recuperar sua dimensão educativa para a vida, comunitária e ambiente espiritual atrelado aos aspectos existenciais do mundo urbano.
Portanto, uma Igreja que compreende a necessidade e as oportunidades da missão urbana deve levar em consideração a enorme oportunidade de educar para a vida (dimensão educativa): estabelecer programas de educação formal, por exemplo como alfabetização, sexualidade, financeira e de saúde (a taxa de aborto é altíssima no Brasil). Dimensão comunitária: estabelecer programas de acolhimento e convívio social, por exemplo, para as pessoas em situação de rua, de violência doméstica, (no Brasil especialmente contra as mulheres), de abandono infantil e outros e finalmente assumir sua postura espiritual bíblica, isto quer dizer que para ser portadora realmente uma mensagem centralizada na graça de Deus é preciso entender o ser humano em seu aspecto integral: espiritual-biológico-psíquico. Além de expulsar demônios e curar doenças, Jesus denunciou uma religião escravocrata abençoando as pessoas integralmente: restabelecendo a vida e vida em abundância. Deus nos abençoe neste desafio constante e integral!
Um deles, vendo que fora curado, voltou glorificando a Deus em alta voz;
LUCAS 17.15