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Artigo: Oferecendo esperança a quem está à beira do abismo






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Certa vez um colega pastor, de uma denominação também histórica, foi abordado por alguns evangélicos acerca da seriedade bíblica da sua Igreja, pelo fato desta acolher o corpo e realizar ofício fúnebre de um homem que no dia anterior dera cabo a sua própria vida. O fato tinha sido noticiado nos meios de comunicação e, nas rodas das praças daquela cidade, o falatório acerca da morte do crente era o assunto do dia.

O pastor, com muita humildade, começou a argumentar que o morto era uma ovelha querida, crente ativo naquela Igreja, que já atuara inclusive como professor da Escola Bíblica Dominical. Era um moço pacato, honesto e trabalhador, marido fiel e bom pai de família e que, infelizmente tinha um histórico de enfermidade emocional e psicológica que acompanhava a sua família, do lado paterno, atingindo geralmente os homens da casa.  

Pois este irmão, único cristão da família, estava lutando havia muito tempo contra este mal, sendo acompanhado por médicos, tomando os remédios por eles prescritos, se submetendo a todos os tratamentos, inclusive as orientações pastorais, levando uma vida muito seria com Deus e sua Igreja. Até que, não mais podendo resistir ás pressões da vida, aliada a esta maldita depressão, tombou. O argumento daquele experimentado pastor não fora suficiente para convencer aqueles inquiridores e juizes de plantão que continuaram a afirmar com plena convicção que todos os suicidas não herdarão o reino de Deus e que a ‘Casa de Deus’ não poderia abrigar tal condenado.

O que segue é uma pequena reflexão, não pretendendo ser a palavra final sobre o assunto, entendendo que o ser humano é bastante limitado inclusive na área da compreensão e da misericórdia, necessitando sempre da graça de Deus.

Para inicio de conversa, será necessária fazer uma breve conceituação do termo suicídio, sua classificação, segundo as ciências que tem estudado este fenômeno, para, a partir daí, estabelecer uma análise, à luz das Escrituras Sagradas.

De acordo com CHAMPLIN (2001), os especialistas definem suicídio como “a autodestruição, mediante a supressão intencional da própria vida”, já para Dietrich Bonhöffer, seria a “tentativa do homem de dar um último sentido humano ‘a vida que se tornou sem sentido e um último golpe na autojustificação”. Essa autodestruição pode ocorrer de forma violenta ou lentamente, por exposição intencional do próprio corpo a doenças e perigos fatais. O suicídio, segundo Aurélio, é o ato ou efeito de dar a morte a si próprio, desgraça ou ruína procurada de livre vontade ou por falta de discernimento; autocídio.

A maioria dos autores classifica o suicídio em duas grandes categorias, a saber: o suicídio convencional e o suicídio pessoal.

O suicídio convencional inclui os suicídios tradicionais e os baseados em costumes e culturas de certos grupos. No Japão, por exemplo, existe a tradição do suicídio honroso (hara-kiri). Em outras culturas, mulheres se suicidam para acompanhar seus maridos que partiram. Este comportamento é aceito ali como um ato de heroísmo.

O suicídio convencional, em suas mais variadas formas, ainda é usado em certos segmentos culturais da China, do Japão, da Índia e do noroeste europeu.

Já o suicídio pessoal, não está ligado a nenhum fator cultural ou tradicional. A decisão é de foro intimo. Algumas pessoas se suicidam por problema de depressão, outras por uma questão de fuga de problemas que julgam impossíveis se resolverem, por se sentirem traídas e rejeitadas, querendo chamar a atenção, outras ainda por vingança, por medo, dentre outros fatores e motivações.

Os especialistas diferenciam o suicídio e a tentativa de suicídio. No caso das tentativas, geralmente são usadas meios chamados fracos, que não chegam a ser fatais. É o caso de gás, drogas, remédios em grande quantidade. São vitimas de emoções conturbadas, geralmente atormentadas por problemas amorosos, financeiros, enfermidades incuráveis, quedas morais graves e conflitos familiares. A tentativa de suicídio corresponde em sua grande maioria a um pedido de socorro. Geralmente a tentativa é impensada, momentânea. Segundo estatísticas, 80% dos casos de tentativas acabam acontecendo devido à reincidência, daí ser um alerta para a ação da família, amigos e, especialmente, a Igreja. 

O suicídio propriamente dito é o produto de análise e ponderação, quando não provém de um caso patológico, doentio. Neste caso a ação é geralmente violenta e fulminante, predominando a vontade expressa de morrer, de autodestruição.

Segundo FERREIRA E ZITI (2002), em 1905, o psiquiatra R. Gaupp observou “fatores da personalidade tipicamente anormais, levando alguns casos para o campo patológico”, neste caso uma depressão de origem endógena ou psicopática, uma doença, portanto.

Na Bíblia aparecem alguns casos de suicídio, como o do rei Saul (I Sm. 31:4); o escudeiro do rei Saul (I Sm. 31:5); Aitofel (2 Sm. 17:23); Zinri (1 Rs. 16:18); Sansão (Jz. 16:30); e, o mais famoso de todos, Judas Iscariotes (Mt. 27:5). Mas, onde se encontra na Bíblia, de modo claro e inquestionável, que todo/a suicida não herdaria a vida eterna? Não encontramos nenhuma orientação especifica sobre o tema.

Se considerarmos que o covarde (algumas versões em português traduzem tímidos), citado em Apocalipse 21:8, seria o suicida, teremos muita dificuldade exegética, pois forçaríamos a interpretação do texto, pois este texto citado versa sobre aqueles que negam a fé para não morrer fisicamente, o que ocorre justamente o contrário do suicida. Este almeja a morte física, esperando um alívio imediato as suas tensões e problemas, pouco se importando, consciente ou inconscientemente, com as conseqüências espirituais, bem como a saudade, constrangimento e dor emocional alheia que deixará.

Entretanto, se seguirmos outra linha de raciocínio, a de que o suicídio é a quebra do 6º mandamento (“não matarás” - Ex. 20:13), pois o praticante deste ato estaria matando a si mesmo, ainda assim devemos analisar com muita atenção e prudência, porquanto na própria lei havia os atenuante e os agravantes, o que podemos chamar hoje de crimes doloso (com intenção), culposo (sem intenção), legitima defesa, inimputabilidade (cometido por alguém irresponsável por seus atos, a exemplo de menores, e pessoas afligidas por doenças e ou perturbações mentais e emocionais), sem ainda falar das guerras ou mortes no exercício da função. Se a própria lei dos homens é criteriosa quanto ao juízo dos fatos, como sermos tão absolutistas e inclementes?

Durante muito tempo a Igreja Católica, apoiada nas teses de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, não realizava funeral e enterro digno aos suicidas. Mais tarde, com novas colocações sobre as causas do suicídio, a Igreja passou o problema para o Estado que, muitas vezes, chegava até a confiscar bens e aplicar pesadas multas para os familiares dos autocídas. No séc. XIX ocorreu um movimento muito forte, por parte dos intelectuais e filósofos e surgiu uma mudança, passando o suicídio a ser encarado como uma manifestação de loucura e desequilíbrio mental.

Todo/a cristão/ã sabe que a vida é um dom de Deus. Entendemos que, é bem possível, um crente no Senhor Jesus não pratique conscientemente o suicídio. Os casos mais prováveis seria uma profunda depressão de causas talvez congênitas, hereditárias provenientes da estrutura genética de cada pessoa, ativadas provavelmente através das pressões físicas e emocionais que vive o/a homem/mulher moderno/a, chegando a uma total perda do equilíbrio pessoal, entendendo que cada pessoa tem o seu próprio limite.

Reafirmamos que o suicídio pode ser conseqüência de uma depressão ou outra enfermidade emocional. Neste caso não ocorreu uma decisão racional, portanto esta pessoa não estava consciente dos seus atos. Outrossim, nem todos os casos podem se afirmar inconsciência, pois alguém em sã consciência pode livremente cometer este ato de modo arquitetado e intencional, devido a magoa, a decepção.

O assunto é vasto e complexo que nos levam a crer, amparado por especialistas, que são múltiplas as causas do suicídio, tais como de fundo patológico, social, cultural ou da livre escolha da pessoa.

Não devemos esquecer que um suicida é alguém profundamente dolorido e decepcionado, que ao tirar a própria vida, indiretamente reparte esta dor e decepção, aliada a raiva e tristeza, com todos que o amavam. Ele parte, mas deixa atrás de si toda a sua tristeza, agora herdada pelos seus familiares e amigos que o queriam bem.

O cristão maduro e sensível deve entender que o Senhor não o chamou para julgar, mas para atuar como testemunha da graça. Suicídios estão acontecendo e não adianta em nada simplesmente condenar ou fazer que não seja da sua conta. Como luz do mundo e sal da terra, os cristãos devem agir de modo profilático (preventivo), evitando o autocídio, e quando este porventura vier a ocorrer não se pode esquecer que existe uma família e amigos que necessitam de consolo, de um alento, que somente pode ser transmitido pelos portadores das boas novas. Deixemos o julgamento com Deus (Hb. 9:27).

Cumpramos o nosso papel de semearmos sempre esperança e vida. Somos ministros/as da reconciliação, consolação e graça de Deus, não juízes e algozes do nosso próximo, principalmente quando estes estão no abismo, doloridos e sofridos.

Anunciemos a vida.

 

Rev. André Luiz de Carvalho Nunes,
Pastor da Igreja Metodista Central de Salvador/BA, graduado em Teologia, Pedagogia e História; Pós-graduado em Aconselhamento Pastoral, Psicanálise Clínica e Psicologia Pastoral; Mestre em Teologia com ênfase em Desenvolvimento de Igrejas; Doutor em Ministérios.




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